Page 78 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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ideia, porque o carro estava bonito pra chuchu, todo coberto de branco. Aí fiz
pontaria num hidrante, mas o hidrante também estava com um jeitão simpático,
todo de branco. Afinal resolvi não jogar em lugar nenhum. Fechei a janela e
fiquei andando pelo quarto, endurecendo ainda mais a bola de neve. Algum
tempo depois, quando o Brossard, o Ackley e eu tomamos o ônibus, ainda estava
com ela na mão. O motorista abriu uma janela e me disse para jogá-la fora.
Expliquei a ele que não ia atirar a bola em ninguém, mas não houve jeito dele
me acreditar. Ninguém nunca acredita na gente.
O Brossard e o Ackley já tinham visto o filme que estava passando, por
isso a única coisa que fizemos foi comer uns sanduíches, dar uma voltinha pelas
ruas e tomar o ônibus de volta para o Pencey. De qualquer maneira, pouco me
importava de não ver o filme. Parece que era uma comédia, com o Cary Grant e
essa droga toda, e, além disso, já tinha ido uma vez ao cinema na companhia
daqueles dois. Ambos costumavam rir como hienas por causa de qualquer
besteira, mesmo que não tivesse a mínima graça. Não dava nem prazer sentar ao
lado deles no cinema.
Quando voltamos para o dormitório deviam ser umas quinze para as nove.
O Brossard era maníaco por bridge e começou a procurar parceiros para uma
partida. O chato do Ackley, pra variar, plantou-se no meu quarto. Só que, em vez
de se sentar no braço da poltrona do Stradlater, deitou na minha cama, com a
cara bem em cima do meu travesseiro e tudo. Começou a falar, com aquela voz
monótona, ao mesmo tempo que espremia as espinhas. Dei-lhe mil indiretas,
mas não consegui me livrar dele. Ficou lá falando, naquela voz monótona, sobre
uma garota com quem ele dizia ter tido relações sexuais no verão passado. Já
tinha me contado essa estória umas cem vezes, mas cada vez que contava era
diferente. Numa hora, a coisa tinha acontecido no Buick do primo dele, na hora
seguinte já era na praia. Naturalmente, era tudo mentira. Se alguma vez vi