Page 263 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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- Não, não vai ter mundo nenhum de lugares maravilhosos para a gente ir.
Ia ser completamente diferente - falei. Estava começando novamente a ficar
deprimido como o diabo.
- O quê? - ela perguntou. - Não estou ouvindo direito. Uma hora você grita,
na outra você...
- Eu disse que não, que não vai ter lugar maravilhoso nenhum para se ir,
depois que eu terminar a universidade e tudo. Vê se escuta direito. Ia ser
completamente diferente. Teríamos que descer de elevador, com as malas e a
tralha toda. Íamos ter que telefonar para todo mundo, dizendo "até à volta", e
mandar cartões postais dos hotéis e tudo. E eu estaria trabalhando em algum
escritório, ganhando um dinheirão, e indo para o trabalho de táxi ou nos ônibus
da Avenida Madison, e lendo jornais, e jogando bridge o tempo todo, e indo ao
cinema, e vendo uma porção de documentários idiotas e traillers e jornais.
Jornais cinematográficos. Puxa vida. Tem sempre uma corrida de cavalos
imbecil, e uma dona quebrando uma garrafa no casco de um navio, e um
chimpanzé andando numa droga duma bicicleta, vestido de calças. Não ia ser a
mesma coisa nem um pouquinho. Você não entendeu nada do que eu falei.
- Talvez não! Talvez nem você também entenda - ela respondeu. Já
estávamos um com raiva do outro. Estava na cara que não adiantava tentar uma
conversa inteligente. Eu estava danado de ter começado o troço.