Page 190 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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oportunidades de perder minha virgindade e tudo, mas até agora nunca cheguei
ao fim da linha. Sempre acontece alguma coisa. Por exemplo, se a gente está na
casa de uma garota, os pais dela sempre chegam na hora errada - ou a gente fica
com medo que eles cheguem. Ou, se a gente está no banco de trás do carro de
alguém, tem sempre a namoradinha do outro sujeito, no banco da frente, que
quer saber o que está acontecendo no carro todo. E fica virando para ver o que
está se passando lá atrás. Seja lá como for, sempre acontece alguma coisa. Mas
já andei muito perto de fazer o troço algumas vezes. Uma vez, eu me lembro
bem, fiquei por pouco. Mas alguma coisa desandou - nem sei mais o que foi. O
caso é o seguinte: na maioria das vezes que a gente está quase fazendo o negócio
com uma garota - uma garota que não seja uma prostituta nem nada,
evidentemente - ela fica dizendo para a gente parar. Meu problema é que eu
paro. A maioria dos sujeitos não para, mas eu não consigo ser assim. A gente
nunca sabe se elas realmente querem que a gente pare, ou se estão apenas com
um medo danado, ou se estão pedindo que a gente pare só para que, se a gente
continuar mesmo, a culpa seja só nossa, e não delas. De qualquer jeito, eu estou
sempre parando. O problema é que acabo sentindo pena delas, porque quase
todas as garotas são tão burrinhas... Basta um pouquinho de bolinação, e a gente
vê que elas estão perdendo a cabeça. Quando uma garota fica excitada mesmo, a
gente vê logo que ela está completamente desmiolada. Sei lá. Elas me pedem
para parar, e eu paro. Quando volto para casa sempre me arrependo de ter
parado, mas continuo a fazer a mesma coisa.
De qualquer maneira, enquanto vestia uma camisa limpa, pensei cá comigo
que essa era, de certo modo, minha grande chance. Pensei que, sendo ela uma
prostituta e tudo, eu podia treinar um pouco para o caso de vir a me casar um dia
ou coisa que o valha. Eu me preocupo com isso de vez em quando. Uma vez, no
colégio Whooton, li um livro que tinha um sujeito muito experiente e sensual,
um bocado sofisticado. O nome dele era Monsieur Blanchard. O livro era uma
droga, mas esse Blanchard até que era bem razoável. Tinha um baita dum castelo
na Riviera, na Europa, e sua distração nas horas vagas era bater nas mulheres
com uma bengala. Era um cretino e tudo, mas as mulheres ficavam doidinhas
por ele. A certa altura ele diz que o corpo da mulher é como um violino, e que a